sábado, 13 de junho de 2015

"O Meu Guri!" - Chico Buarque.

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar

Como fui levando não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice, ele um dia me disse
Que chegava lá

Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega

Chega suado e veloz do batente
Traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar

Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar
Olha aí!

Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega no morro com carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos está um horror

Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais

O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo eu não disse, seu moço!
Ele disse que chegava lá

Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí
Olha aí!
É o meu guri!

Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí
Olha aí!
É o meu guri!

*A música retrata de uma mãe contando a história para algum homem , temos essa certeza quando no início já diz “Quando seu moço”. Ela tem então seu filho, e não tem condição de o criar “já foi nascendo com cara de fome”, e eles vivem na favela em uma situação de miséria. E então seu filho sempre diz que chegava lá, e começa a mudar a vida dele e de sua mãe, através do assalto, quando ele traz presentes para ela, corrente de ouro,uma bolsa com tudo dentro.. Ma não fica claro se a mãe sabe ou aceita que seu filho rouba,ou tem um emprego. No final então, ele morre.
*Guri era o apelido de Adjevan Nunes, deliquente que ao matar um policial em São Paulo causou a criação do Esquadrão da Morte do delegado Sérgio Fleury.
Foi encontrado morto num matagal( ”O guri no mato”)de Itaquera com 150 tiros.

Fonte: Ditadura Escancarada, de Elio Gaspari.
Pág.325

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